'Tomou banho, deu café? Amarra', diz funcionária sobre ordens dadas por dona de casas clandestinas para idosos em Ribeirão Preto
Donas de casas para idosos é presa por abandono em Ribeirão Preto, SP Funcionária de uma das casas de repouso para idosos clandestinas que pertencem a Eva Ma...
							Donas de casas para idosos é presa por abandono em Ribeirão Preto, SP Funcionária de uma das casas de repouso para idosos clandestinas que pertencem a Eva Maria de Lima, presa no último domingo (2) em Ribeirão Preto (SP), diz que a patroa mandava amarrar os pacientes com pedaços de lençol após o café da manhã e que eles chegavam a passar as noites atados às camas. “A Eva mandava a gente amarrar porque não tinha tanto cuidador para tomar conta, para os pacientes não ficarem zanzando para lá e para cá enquanto a gente estava dando banho em um paciente. ‘Tomou banho, deu café? Amarra’. Muitas vezes também de noite, mandava a gente amarrar porque era um cuidador para aquele tanto de paciente”, diz a mulher, que prefere não se identificar. Os pacientes pediam para não serem amarrados, mas os funcionários obedeciam às ordens porque tudo na casa era vigiado por câmeras monitoradas por Eva. “A gente tinha que amarrar porque tinha câmera filmando a gente e se não amarrasse, ela chamava atenção da gente, porque ‘se caísse, era responsabilidade sua’”, afirma a mulher. Faça parte do canal do g1 Ribeirão e Franca no WhatsApp Eva teve a prisão em flagrante por abandono e maus-tratos convertida em preventiva nesta segunda-feira (3). Segundo o Ministério Público, ela mantinha três casas em funcionamento mesmo após interdição judicial determinada em abril deste ano por irregularidades. Ao g1, a defesa negou todas as acusações. Pacientes amarrados às camas em casas para idosos que operavam clandestinamente em Ribeirão Preto, SP Reprodução/EPTV Segundo a funcionária, os pacientes relatavam episódios de agressões físicas por parte de Eva. “Eles falavam pra gente que a Eva gritava, puxava cabelo, dava chacoalhão, beliscava. Eles falavam que era ela. Ninguém tinha problema de cabeça. Muitas vezes estavam ali porque deu um derrame na perna, um probleminha, mas todos eram lúcidos. Todos sabiam o que estava acontecendo ali.” Ao todo, 36 idosos foram resgatados no último domingo (2). Sete deles estavam em uma casa no bairro Parque Ribeirão, na zona Oeste da cidade, e foram encaminhados a unidades de saúde, onde foram internados. Os outros estabelecimentos funcionavam nas ruas Lafaiete, no bairro Vila Seixas, e Marechal Deodoro, no bairro Alto da Boa Vista. LEIA TAMBÉM: Familiares relatam abandono de idosos resgatados em asilos clandestinos: 'Situação deplorável' 'Não há explicação', diz promotor sobre casas de repouso com idosos no chão Vídeos mostram idosos deitados no chão, sem roupas e reclamando de dor Paciente encontrado em quarto de casa clandestina para idoso em Ribeirão Preto, SP Reprodução/EPTV Falta de higiene e fraldas limitadas De acordo com a funcionária, os idosos eram deixados sujos depois que usavam as três fraldas diárias limitadas por Eva. “Existia um controle de fraldas, eram três no dia: de manhã, à tarde e à noite. Não podia usar mais (...) Todos os dias os pacientes ficavam sujos. Deixava com cocô, com xixi. Era um cheiro muito forte de urina, muito forte”, afirma. Também não era possível fazer a higiene adequada nas casas por causa da falta de materiais de limpeza. A funcionária conta que, na maioria das vezes, apenas água era usada. Banheiro de casa clandestina para idosos em Ribeirão Preto, SP Reprodução/EPTV Mensalidade Familiares dos idosos afirmam que pagavam R$ 2,5 mil por mês para Eva, que prometia refeições balanceadas e equipes de enfermeiras, fisioterapeutas e nutricionistas. Os serviços, no entanto, não eram ofertados aos idosos, segundo a funcionária. Ainda segundo a cuidadora, as casas eram maquiadas quando familiares iam visitar os idosos. Não era possível entrar sem aviso prévio, chegando ao ponto de a pessoa ser barrada no portão. “Quando as famílias iam, a Eva avisava nós e dizia ‘família de paciente tal está indo aí’. Então a gente tinha que dar aquela disfarçada e sigilo, não conversar com a família, não deixava a gente falar com a família. A gente deixava a família e o paciente na sala e a gente tinha que sair”, afirma. A funcionária conta que além do valor mensal, Eva exigia o pagamento de um kit de higiene que ela alega nunca ter visto ser entregue nas casas para cuidado dos idosos. “Ela não estava nem aí para os pacientes porque se estivesse, se preocupava mais com a situação. Ela queria mesmo era ganhar dinheiro e todos os pacientes pagavam, não tinha um de graça. Queria saber do dinheiro do mês.” Eva Maria de Lima, dona das casas clandestinas para idosos em Ribeirão Preto, SP Reprodução/EPTV Afronta à Justiça O promotor de Justiça Carlos Cezar Barbosa diz que Eva afrontou as autoridades ao manter as casas abertas apesar da determinação judicial. “Ela fez um enfrentamento da Justiça. Essas casas já eram para estar desocupadas por determinação judicial desde junho desse ano. Ela veio enfrentando as decisões judiciais, protelando dentro do processo, fazendo que ele arrastasse.” Segundo Barbosa, os idosos estão sendo triados e encaminhados para as famílias ou outras instituições regularmente constituídas. Os que foram encontrados com problemas de saúde foram encaminhados para atendimento. “Dois idosos precisaram ser encaminhados para casas de saúde porque estavam com hipoglicemia. Isso significa falta de alimentação adequada. Eles estavam correndo risco de morte.” O que diz a dona das casas Ao g1, a defesa de Eva negou todas as acusações. Disse também que enquanto as casas situadas nas ruas Lafaiete e Marechal Deodoro estiveram sob administração da Eva, sempre houve zelo, respeito e dedicação para se dar qualidade de vida aos idosos assistidos, todos de baixa renda e muitos abandonados por suas famílias. Veja mais notícias da região no g1 Ribeirão e Franca Vídeos: Tudo sobre Ribeirão Preto, Franca e região